Neste
último ano tive a oportunidade de conhecer lugares que nem imaginava que
poderia chegar. Aproveitando o tempo de estudos, fora de casa, eu também
aproveitei para conhecer lugares que pudessem me oferecer algo a mais sobre
meus interesses não apenas acadêmicos (na universidade), mas também sobre minha
construção como mulher negra.
Das viagens que fiz uma me marcou especialmente: passei 7 dias no Marrocos. Estive em Marrakesh e Essaouira.
Amanhecer no Deserto do Saara
Cenário de muitos filmes, inclusive Cleópatra (1968)
Mas, em pouco tempo eu senti que estava sim na África! Muitas similaridades com o Brasil, especialmente o resultado da política de colonização e destruição que os países europeus promoveram. Foram pilhagens sem fim, o uso de povos e países inteiros como moeda de troca em pleno século XX. Inclusive no Marrocos, hoje um dos idiomas oficiais é o francês, assim como em outros países colonizados, o idioma oficial é o idioma do colonizador. As consequências mais visíveis disso são a destruição não só física, mas também na alma de muitas pessoas com que estive. Entretanto, nossas semelhanças positivas são tantas e tão profundas que me emocionaram: um povo extremamente acolhedor, alegre e que soube preservar suas tradições culturais mesmo com tantos ataques. O chá verde com hortelã servido no mesmo copo para todos os convidados é imperdível.
O guia
que nos acompanhou, Mostafa Saara, (foto ao lado), grande apaixonado por seu país e guia desde os 16 anos, me ajudou a
desmistificar centenas de coisas sobre o Islâmismo (maior religião do
continente africano atualmente). Mais uma impressão que o ocidente tenta nos
passar totalmente equivocada e cheia de segundas intenções. Uma religião, que
tem suas especificidades, como todas as outras e é respeitada por seus
seguidores. As mesquitas, em Marrakesh são proibidas aos turistas. Mas, nos
horários de oração vemos os homens, se recolhendo para ir orar,
respeitosamente.
Obviamente, o que mais me encantou em Marrakesh foi a Medina! Eu não perdi a oportunidade renovar o estoque da Central das Divas. Percorri a Medina inteira em busca de tecidos, bijouterias e histórias! E trouxe muuuita coisa. Que em pouco tempo estará disponível para vocês!
Obviamente, o que mais me encantou em Marrakesh foi a Medina! Eu não perdi a oportunidade renovar o estoque da Central das Divas. Percorri a Medina inteira em busca de tecidos, bijouterias e histórias! E trouxe muuuita coisa. Que em pouco tempo estará disponível para vocês!
Muitos acessórios chegando à Central das Divas
Achei coisas lindas, únicas, feitas com pedras que são encontradas apenas no Marrocos. O artesanato, muitas vezes, é feito ali na sua frente. Na mesma hora a gente se pergunta: onde as mulheres, que vestem burcas, usam essas jóias tão lindas? Soube que é permitido que elas usem acessórios em festas.
Diante de tanta coisa linda, tive que aprender outra coisa: a lei da pechincha! É algo cultural. Eles dão o preço mais alto e começa o jogo. Compramos coisas com até 70% do preço inicial. Outra característica que me fez sentir em casa: muitas cores e alegria! A Medina é um lugar divertido e bonito de se ver... Com uma diversidade de estampas, texturas e cheiros. Mas, não se engane... é lotado! Tem que ter paciência e muita boa vontade para andar muitos quilômetros naquele calor. É gente do mundo todo procurando coisa boa, autêntica e barata!
Além
disso, quem me lê, sabe que a minha paixão é o turbante, além de renovar o
estoque da Central das Divas (ou seja, muita novidade chegando em breve) eu
descobri histórias fantásticas sobre os turbantes no Marrocos. Em cada região,
há uma tradição diferente sobre o uso do turbante. Ele não tem valor religioso,
como em outras regiões do continente africano, mas é muito importante
culturalmente e é usado como proteção contra o sol ou estético. É um acessório
que tem seu uso preservado, especialmente pelos berbéres (primeiro povo a
povoar o Marrocos) por cerca de 3000 mil anos! Pesquisei e conversei com os marroquinos sobre os turbantes e os principais detalhes que consegui descobri são:
- Os berbéres (mais ao norte do país) usam turbantes curtos (até 2 metros) e amarelos.
- No Anti -Atlas, também conhecido como Pequeno Atlas - que é uma cordilheira montanhosa no sudoeste do Marrocos - usa-se turbante preto mesmo no calor. O tamanho médio é de 6 metros. Oh, qual seria minha alegria conseguir um turbante de 6 metros!
- Na região Daraa e Tafilalti, usa-se turbante colorido e o tamanho é entre 6 e 22 metros. Se ficaria feliz com um tecido de 6 metros, imagina então um com 22 metros Não tive sorte desta vez...
- No deserto do Saara, o tamanho é no máximo de 6 metros, pode-se usar apenas branco, cinza ou preto.
- Nas cidades médias, centros, especialmente por causa dos turistas, as pessoas mais jovens têm vergonha de usar. O uso é restrito à pessoas mais idosas.
Outra
curiosidade super interessante é a forma como os tecidos são
coloridos. Eles são pintados artesanalmente com plantas da região: a
alfafa dá a cor verde, a páprica dá o vermelho e o açafrão colore os tecidos
amarelos. Para fixar as cores naturais, são usados vinagre e limão, depois se
mantém o tecido por 3 dias no sol.
Depois
de descobrir isso tudo, eu não poderia deixar escapar a oportunidade de ser
turbantada por um marroquino. E fui! Estávamos em uma fábrica de tapetes, rumo
ao deserto do Saara e o Mostafa me turbantou. O vídeo está aqui embaixo. A
amarração não é fácil e é especifica para quem precisa proteger o rosto, do
sol, do calor, do vento. Aprendi algumas outras típicas do Marrocos e em breve
postarei no nosso canal no YouTube.
Mesmo com tantos ataques estamos de pé e precisamos nos manter assim. Descobrindo as histórias de nossa ancestralidade por nós mesmos e fazendo com que elas cheguem às novas gerações de uma forma com que elas possam sentir orgulho desde cedo de suas origens!
Eu, devidamente turbantada!