Claudia Jones: a luta da mulher negra é uma ameaça à burguesia (20/31)

No dia 20 dos 31 dias do #julhodaspretas da Central das Divas, homenageamos Claudia Jones, mulher, preta e importante feminista. Claudia Jones não é muito conhecida no Brasil, mas na conferência da professora Angela Davis na abertura do curso de Black Feminism no dia 17 de julho de 2017 - disponível na íntegra neste link - ela foi amplamente citada, então a gente resolveu resgatar um pouco da biografia.

Claudia Vera Cumberbatch, nome de registro de Claudia Jones, nasceu em 1915 em Trinidad. Entretanto ela é radicada nos Estados Unidos da América, tendo se mudado com a família para este país ainda criança. Desde muito jovem ela se destaca nos estudos, tendo ganhado o Jones ganhou o Prêmio Theodore Roosevelt de Boa Cidadania em sua escola de ensino médio. Apesar disso, sua condição de mulher, negra e imigrante trouxe diversos impedimentos e dificuldades. Ao invés de continuar seus estudos, Jones começou a trabalhar em uma lavanderia e, posteriormente, no comércio, no Harlem. É quando ela se junta a um grupo de teatro e começou a escrever uma coluna chamada "Claudia Comments" para um jornal do Harlem.

Aos 21 anos ela se juntou à organização comunista Young Communist League USA. Na década de 1930, Jones foi editora do Daily Worker e do jornal mensal Spotlight. Após a II Guerra Mundial, Jones tornou-se secretária-executiva da Comissão Nacional das Mulheres, vinculada ao Partido Comunista dos Estados Unidos (CPUSA) e, em 1952, assumiu a mesma posição no Conselho Nacional da Paz. Em 1953, ela assumiu a direção da política associada a assuntos afro-estadunidenses.

Como resultado de sua participação no CPUSA e de várias actividades associadas, em 1948, ela foi presa e condenada, para o primeiro de quatro períodos de prisão. Detida na Ellis Island, ela foi ameaçada de deportação para Trinidad. Ela sofre um ataque cardíaco enquanto estava presa, sendo deportada em 1955. Com a entrada proibida em Trinidad, ela se muda para o Reino Unido onde fortalece a luta contra o racismo e o empoderamento da comunidade afro caribenha. No início da década de 1960, apesar de estar com a saúde abalada, Jones ajudou a organizar campanhas contra a Lei de Imigração 1876, o que tornaria mais difícil para os não-brancos de imigrarem para a Grã-Bretanha. Em 1958, ela fundou e tornou-se editora do jornal anti-imperialista e antiracista West Indian Gazette e Afro-Asian Caribbean News. O jornal foi um importante instrumento político na comunidade negra britânica. Jones também participou da campanha para a libertação de Nelson Mandela e denunciou o racismo no local de trabalho. 


Jones também contribuiu para a manifestação artística do povo afro latino caribenha em Londres, sendo uma das criadoras do Carnaval de Notting Hill.
Claudia morre precocemente, aos 49 anos, em casa, vitimada por um ataque cardíaco. Ela é enterrada em Londres, ao lado de uma grande referência: Karl Marx.

Claudia Jones deixa um importante legado teórico e prático. Anualmente, o Conselho de Membros Negros do Sindicato Nacional dos Jornalistas organiza um importante evento em memória a Claudia Jones, para celebrar sua contribuição ao jornalismo negro. Em 1982, é fundada a Organização Claudia Jones foi fundada em Londres, para apoiar e capacitar as mulheres e as famílias afro-caribenhas.

Seu texto mais conhecido foi publicado em 1949 na revista Political Affairs. "An End to the Neglect of the Problems of the Negro Woman!" já trás elementos do que hoje em dia chamamos de interseccionalidade por trazer elementos raciais, de gênero e de classe para discutir a situação de opressão das mulheres negras.


A burguesia tem medo da militância da mulher negra, e por uma boa razão. Os capitalistas sabem muito mais do que progressistas parecem saber que, quando as mulheres negras começarem a agir, a militância de toda a população negra, e assim da coalizão anti-imperialista, vai aumentar muito. Historicamente, a mulher negra tem sido a guardiã e protetora da família negra. [...] Como mãe, negra e trabalhadora, a mulher negra luta contra a destruição da família negra, contra as leis segregacionistas que destroem a saúde, a moral e a vida de milhões de irmãs, irmãos e crianças. Nessa perspectiva, não é eventual a burguesia estadunidense ter intensificado a opressão não apenas contra a população negra no geral mas contra a mulher negra em específico. Nada expõe mais a fascistização de uma nação quanto a atitude vil que a burguesia exibe e cultiva contra as mulheres negras.


VIVA CLAUDIA JONES!

VIVA AS MULHERES NEGRAS!




No mês de julho vamos celebrar, conhecer, homenagear 31 mulheres no mês de julho! Sabemos que ainda é pouco, mas será um prazer rever a vida de algumas das nossas inspirações! Billie Holliday, Carolina Maria de Jesus, Elza Soares, Ella Fitzgerald, Chimamanda Ngozi Adichie, Sueli Carneiro, Taiye Selasi, Luiza Bairros... São tantas pretas maravilhosas que iremos homenagear! Não perca!!

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