Magali Mendes: "eu só sei trabalhar pelo coletivo" (29/31)

A proposta do #julhodaspretas da Central das Divas é dar visibilidade às mulheres pretas. Mostrar que temos história própria. Que nossa luta tem sido feita por mulheres de verdade, de carne e osso. Precisamos conhecer seus rostos, nome e sobrenome. Assim, temos conseguido mostrar mulheres que já tem algum registro biográfico na internet, mas achamos que é possível e necessário fazer novos registros. Dar visibilidade à mais mulheres negras que tem lutado de forma anonima, mas que têm mudado a realidade de tantas outras mulheres negras e suas comunidades. Vou apresentar e registrar, pela primeira vez na internet, a biografia de algumas mulheres que admiro e que tem contribuído para a luta de mulheres negras. 

Uma destas mulheres é a ativista, do movimento negro e sindical, Magali Mendes que vive a muitos anos em Campinas, no interior de São Paulo, e é a 29ª mulher negra homenageada pela Central das Divas no nosso #julhodaspretas. Para registrar a biografia de Magali, pude conversar com ela comendo uma pizza e foi tão simples que não dava nem para acreditar que alguém tão fascinante e importante para a luta das mulheres negras estava ali ao meu alcance. Cada história que ela conta, você se envolve tanto que nem se lembra mais do que perguntou no inicio. Na conversa, eu aprendi tanto, sobre tanta coisa que foi até difícil ir para casa depois. Conversa de preta, das boas! Sorte a minha.


Magali Mendes nasceu em Jundiaí, uma cidade vizinha a Campinas, em 10/01/1963. Magali é a mais nova de 5 filhos. Filha de um metalúrgico e de uma dona de casa, formou-se em Técnica Agrícola e gostaria de continuar seus estudos em Agronomia. Mas, sua história é semelhante às histórias de tantas outras mulheres negras. Magali não continuou seus estudos em Agronomia, pois sua família não tinha condições de bancar mais anos de estudos. Portanto, ela precisava trabalhar.


Concursada na UNICAMP, Magali se muda para a cidade de Campinas onde fica por 35 anos. Sua carreira como funcionária da UNICAMP começa no cargo de jardineira. Esta era uma função exercida majoritariamente exercida por homens e foi um espaço de opressão para as mulheres que dividiam com eles as tarefas. Magali relata que sofreu diversas pressões machistas enquanto trabalhava neste setor. É quando ela se aproxima do Sindicato dos Trabalhadores da UNICAMP, se filiando e participando ativamente das atividades do Sindicato, tendo participado da gestão do ano.... Magali se aposenta como funcionária da UNICAMP, tenso passado pelo Instituto de Ciências Humanas e CIS Guanabara.

Durante o período em que trabalhou na UNICAMP, Magali cursou história na PUC. Ao ser questionada sobre os motivos que a levaram buscar uma formação superior, Magali diz que fazer um curso superior era importante, mas não foi um sonho. Ela acredita que temos que garantir possibilidades de que o curso superior seja uma escolha e não a única opção de garantia de vida para os jovens, especialmente negros e negras. Ela acredita que existem outras possibilidades para além da formação superior, mas que elas só poderão ser aproveitadas quando forem uma escolha possível para quem quiser e não um privilégio.

Apesar de sua atuação no sindicalismo, a principal atuação de Magali foi em defesa dos direitos de negros e negras, tendo participado de importantes atividades dos movimentos negros, especialmente o FECONEZU, uma organização quilombola. Magali atua no FECONEZU desde os 17 anos de idade, quando teve a oportunidade de ajudar a organizar um encontro da entidade na região de Jundiaí. A partir do encontro, ela e outros jovens fundaram o Grupo Afrocultural de Jundiaí.

Na década de 1990, Magali participa da Comissão de Mulheres Negras de Campinas e da fundação da Casa Laudelina na mesma cidade. A intervenção de Magali na defesa dos direitos das mulheres negras a levou até o II Encontro Afro Caribenho de Mulheres, em Costa Rica (2011). Este encontro aconteceu com o objetivo de ampliar as pautas do I Encontro e incluir as mulheres afrocaribenhas nelas. No ano de 2015, Magali Mendes participou da fundação da Frente de Mulheres Negras de Campinas que impulsionou a caravana de Mulheres Negras a Marcha de Mulheres Negras, em Brasília.

Quando perguntada se é feminista Magali confirma sem pensar: SOU FEMINISTA! Ela diz que desde sempre viveu o feminismo, ainda que não tratasse por este nome as relações que sempre foram estabelecidas em sua casa e bairro e que orientaram sua vida. É a partir destes posicionamentos feministas que Magali constrói o que ela identifica como sua principal atuação: as PROMOTORAS LEGAIS POPULARES, onde ela atua desde 1996. Ela identifica que através de sua atuação nas PLP's ela pode se aproximar de verdade dos problemas que as mulheres periféricas enfrentam em seu cotidiano, podendo apoiá-las e instrumentalizá-las para que possam, elas mesmas, ser agentes de transformações em suas casas, comunidades e na sociedade.

Para Magali Mendes, a principal tarefa dos movimentos de mulheres negras no momento atual é renovar o movimento, oxigenar, trazer mais mulheres para a luta. Para ela, temos sido vitoriosas. Ver os olhos de  Magali brilhando de esperança ao falar da nova geração de mulheres que tem abraçado a luta das mulheres negras me encheu de amor e vontade de continuar. Sim, Magali Mendes, você é uma Griô.

VIVA MAGALI MENDES!
VIVA AS MULHERES NEGRAS!


Agradecimento especial a Daniele Diniz, que contribuiu lindamente para este post!


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