Carolina Maria de Jesus: literatura negra e periférica presente! (19/31)


No dia 19 dos 31 dias do #julhodaspretas da Central das Divas homenageamos, com muita honra, Carolina Maria de Jesus. Nos últimos anos, tem havido um importante resgate da biografia de Carolina e de sua obra, mas sabemos que a importância de sua obra ainda não é consenso no meio literário por um único motivo: CAROLINA ERA MULHER PRETA POBRE. Quem não se lembra da declaração de Ivan Cavalcanti Proença - homem e branco - sobre Carolina, na Academia Carioca de Letras, em abril deste ano? O livro ‘Quarto de despejo’ não é literatura. Ouvi de muitos intelectuais paulistas: ‘Se essa mulher escreve, qualquer um pode escrever’”. Rapidamente, Elisa Lucinda e dezenas de outros literatos saíram em defesa da obra de Carolina. Portanto, para nós, é fundamental reconhecer e homenagear Carolina Maria de Jesus.



Carolina Maria de Jesus nasceu em 1914, em Sacramento, Minas Gerais, numa comunidade rural. Carolina foi criada apenas pela mãe, uma vez que seu pai não a reconhecia omo filha legítima. Apesar da infância pobre, aos sete anos, a mãe de Carolina pode frequentar a escola depois que a esposa de um rico fazendeiro decidiu pagar seus estudos. Ela permaneceu apenas 2 anos estudando, mas aprendeu a ler e a escrever. Carolina também desenvolveu gosto pela leitura.

Em 1937, com a morte de sua mãe Carolina migrou para São Paulo. Na metrópole, ela se instalou na favela do Canindé e trabalhava como catadora de papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família. As revistas e cadernos antigos encontrados eram usados para escrever sobre seu dia-a-dia. Assim ela produziu seu testemunho sobre o cotidiano de uma mulher preta, pobre e moradora da favela, dando origem ao seu livro mais famoso, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960.

Foram vendidos mais de 100 mil exemplares de Quarto de despejo que foi traduzido para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países. Em vida, Carolina Maria publicou Quarto de Despejo, Casa de Alvenaria (1961), Pedaços de Fome (1963) e Provérbios (1963). Carolina Maria de Jesus criou três filhos sozinha, solteira. morreu em 13 de fevereiro de 1977, vítima de insuficiência respiratória. Há registros que relatam sobre Carolina Maria ser uma "mulher de temperamento forte" e por isso ela teria morrido pobre. Entretanto, sabemos todos os estereótipos que perseguem as mulheres negras. Se o comportamento supostamente difícil de um artista branco não é empecilho para seu sucesso, porque deveria ser para uma mulher negra? Sabe-se que ela, desde muito jovem, era repreendida pela curiosidade excessiva e rejeitada por não se enquadrar nos padrões destinados às mulheres negras: o lugar dos bastidores, sem privilégios e sem protagonismo. A verdade é que o brilhantismo de Carolina Maria de Jesus não foi reconhecido devido ao fato de ela ser mulher, pobre, preta e falar a partir deste lugar.

Todas as homenagens a Carolina Maria de Jesus são justas e necessárias. Que possamos conhecer e difundir seus escritos para as próximas gerações.

Postumamente, foram publicados Diário de Bitita (1982), Meu estranho diário (1996), Antologia Pessoal (1996) e Onde Estaes Felicidade (2014).

0 comentários:

Postar um comentário